Fonte: Portal 10 Graus 19/05/2010 (180graus.brasilportais.com.br)
João ama Ana, que ama Roberto, que ama Jussara, que ama João. Essa ciranda do amor parece até saída de uma poesia ou canção, mas é usada aqui para ajudar a entender o poliamor. Trata-se de uma maneira diferente de se relacionar, que recusa a monogamia e permite amar mais de uma pessoa ao mesmo tempo.
Quem segue o poliamor, ama e é amado por mais de uma pessoa, mas os poliamoristas garantem que nada tem a ver com promiscuidade. Nesse tipo de relação, não há traições: todos os envolvidos sabem e concordam com a não exclusividade do parceiro e vivem de maneira responsável e profunda seus amores. “Não há ciúme, pois não há medo de perder”, diz a psicoterapeuta e sexóloga Regina Navarro Lins, autora do livro “A Cama na Varanda” (Editora Best Seller), do Rio de Janeiro, que dedica um capítulo ao assunto. Veja aqui no que os poliamoristas acreditam.
O assunto é polêmico e mais conhecido do que se imagina. No Google, por exemplo, há 171 mil resultados para a palavra poliamor, enquanto no Orkut, pode-se encontrar 14 comunidades. Mas, antes de tudo, é bom diferenciar poliamor de outros tipos de relacionamento, como relação aberta, poligamia e swing.
Diferenças
Na relação aberta, o casal não faz pacto de exclusividade, mas os códigos continuam sendo de um casal: geralmente um não quer saber sobre os parceiros do outro. Nesse tipo de relacionamento, os casos extraconjugais estão mais ligados ao sexo.
A poligamia, em que se permite o casamento com mais de uma pessoa, divide-se em duas vertentes. A mais comum é a poliginia - casamento de um homem com várias mulheres. Já a poliandria - casamento de uma mulher com vários homens - é mais restrita e menos aceita.
No swing, ou troca de casais, o envolvimento é puramente sexual. Inclusive, há regras para que não passe disso e invada a esfera emocional. “O swing é para poucos. É preciso ter uma estrutura psicológica especial e forte para se relacionar dessa maneira”, analisa o psicólogo paulista Ailton Amélio da Silva, professor do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP) e autor do livro “Para Viver um Grande Amor” (Editora Gente), que vai ministrar a palestra gratuita “Estilos de Amor”, no próximo dia 10 de junho, na USP. Mais informações no blog http://ailtonamelio.blogspot.com/.
Quem já viveu formas diferentes de amar corrobora a afirmação do especialista. O militar, fotógrafo e escritor Samuel*, 43 anos, divorciado, praticava swing quando era casado, mas sentiu falta de demonstrações de carinho, e isso o incomodava. “Percebi que eu era capaz de gostar de mais uma mulher, dar e receber carinho. Comecei a viver o poliamor depois que me separei e hoje tenho uma parceira, a principal, e uma ou outra secundária”, conta. Leia aqui seu depoimento.
Já o vendedor Bruno*, 25 anos, nem conhecia o termo poliamor quando namorava uma garota e outro rapaz. “Passamos três meses juntos: saíamos para barzinhos, íamos a motéis. Mas ele ‘surtou’ e caiu fora”, conta. No entanto, Bruno garante que não vai desistir desse tipo de relacionamento. “Acho que existem pessoas que pensam dessa maneira. Não fico correndo atrás, mas quando encontro alguém interessante comento sobre minha posição. Não quero enganar ninguém”, afirma.
Poliamor x casamento
Segundo a sexóloga Regina Navarro Lins, estamos vivendo profundas transformações. Uma delas, e muito importante, é a quebra de paradigmas em relação ao amor romântico, que prega a fusão entre os amantes em uma coisa só, a tal da alma gêmea. “Hoje, a busca do ser humano é para dentro si a fim de desenvolver sua própria vida. E o amor romântico e idealizado bate de frente com essa postura atual”, diz. E completa: “A exclusividade nos relacionamentos está saindo de cena para dar lugar a novas maneiras de amar, como o poliamor”.
O psicólogo Ailton Amélio da Silva não acredita que o poliamor seja possível na prática para todos. “Na história da humanidade, não foram encontradas culturas em que não haja uma forma de casamento. Relacionamentos e filhos são regulados de alguma forma”, afirma. Ele cita o Atlas Murdock, em que são localizadas no mapa-múndi as várias formas de “casamento” nas culturas: poligamia, monogamia, casamentos arranjados, iniciação sexual pela mãe etc. Foram listadas cerca de 1200 sociedades, das quais, 800 privilegiam a poligamia (apenas sete culturas seguem a poliandria).
“Onde prevalece a monogamia, no entanto, há infidelidade”, afirma Silva. Estima-se que nessas sociedades 10% dos filhos não são do pai presumido. “As culturas monogâmicas adotam medidas, às vezes radicais, para coibir a traição, mas não adianta”, analisa. Mesmo assim, o psicólogo afirma que é a favor da fidelidade. “Quem se compromete com alguém não deixa de ver, desejar ou perceber outras pessoas. Mas o custo benefício da infidelidade não vale a pena, embora tenhamos propensões a ela. Por outro lado, temos mecanismo para ser monogâmicos, como o amor”, afirma.
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