O homem dos óculos e do bigode
O homem que senta ao meu lado tem óculos e bigode, como aquele do Poema de Sete Faces, de Carlos Drummond de Andrade. E, realmente, como no poema, é o tipo de pessoa que se encontra nos bondes, nos ônibus ou no supermercado, que vai trabalhar e que, diariamente, volta cansado do seu trabalho, às vezes, com um pacote de compras.
A diferença é que a sua esposa, ao seu lado, nesse momento tateia os músculos de um outro homem. De um streaper. Enquanto ele, nosso amigo dos óculos e do bigode, olha fixo para um ponto à frente. Talvez porque tenha algum pudor de olhar para sua mulher - que, a essa altura, beija um musculoso abdômen e agarra, sem arrancar, a sunga do outro. Talvez porque, ajeitando um pouco os óculos, prefira observar o nu frontal de uma mulher que delira enquanto é afagada por outro streaper musculoso, deitada em um tapete colocado sobre o chão do salão em que cerca de 25 casais se reúnem. Uma mulher com quem esbarrou no ônibus ou no supermercado e nem deu por si. Mas a quem, agora, deseja.
O homem dos óculos e do bigode, que tinha poucos, raros amigos, no momento tem muitos. E com desejos similares aos seus. Estamos em um clube de swing. Um dos muitos que há em Curitiba, onde casais se encontram para trocar de par.
As dificuldades iniciais
Na internet é fácil encontrar essas casas. Só no Paraná, através de sistemas de busca da rede mundial de computadores, sem dificuldade encontram-se pelo menos três ou quatro delas. Aparentemente, são fundadas por casais que, depois de muitas tentativas, percebem a dificuldade de encontrar pessoas com as mesmas preferências e, ao mesmo tempo, que façam sexo seguro, que não usem drogas e que sejam praticantes, acima de tudo, da polidez. Pelo menos, é isso o que pede a maioria dos anúncios em páginas especializadas da net.
Adonis e Léia - vamos chamar assim os donos dessa casa que fica em uma rua secundária do Portão, bairro residencial de Curitiba - aparentemente passaram por essa dificuldade quando eram iniciantes na prática do swing. Talvez por reconhecê-la tenham criado no clube que administram um serviço de acompanhamento para os neófitos. É como se eles estivessem em observação. Sentam em uma mesa especial, que permite ampla visão do salão, e as coisas acontecem de forma a não assustar, nem intimidá-los. Sem, no entanto, exclui-los. Na verdade, esse acompanhamento acontece desde a primeira ligação para o clube.
Primeiros contatos
O endereço não é divulgado na home-page que o clube mantém na internet. Apenas o telefone. Do outro lado da linha, uma voz tranqüila de mulher - é Léia - me pergunta se eu já conheço ou se já freqüentei alguma casa com esse tipo de especialidade. É que, em geral, por casa de swing se entende um lugar onde, obrigatoriamente, acontecem as trocas de casais. Ela me explica que sua casa é um pouco diferente.
O casal não precisa seguir a fórmula, extraída talvez da teoria dos conjuntos, em que um elemento de um grupo corresponde exatamente a um elemento do outro grupo. Isto é - traduzindo para uma gramática menos matemática porém mais carnal - não é necessário que a mulher e o homem de um casal façam sexo com o homem e a mulher, respectivamente, de um outro casal. Na verdade, não precisam fazer necessariamente nada, como me explica simpaticamente Léia. “às vezes, vir aqui e conversar com outras pessoas é o suficiente para deixar os dois satisfeitos”, diz. Como esse processo de satisfação virá - e sobre o caráter sexual ou não dele -, só cabe ao casal decidir. E a última palavra, segundo as regras da casa, é da mulher. Ponto positivo. Outras casas de swing chegam a passar uma imagem de que o homem usa sua esposa como moeda de troca.
Ela me explica outros detalhes do funcionamento do lugar e me avisa que devo fazer uma reserva se quiser conhecer a casa neste fim de semana. Antes de desligar, porém, sem que eu pergunte, ela faz questão de afirmar que o público do local é classe A e que não devo me preocupar com nada. Subitamente tive receios quanto ao traje que deveria usar e se minha voz ao telefone, até então, tinha sido um tanto adolescente. Engrosso um pouco a voz e digo que vou consultar minha namorada antes de fazer as reservas. O que faço no dia seguinte.
Classe A
Novamente, esqueci de perguntar quanto ao traje. Talvez devesse usar terno. O que seria um erro. Eu pareceria um marciano. Hollywood e uma imaginação fértil tendem a fazer com que pensemos em lugares assim com um aura de glamour decorativo, um local cheio de brilhos e lustres de cristais. Quem assistiu De Olhos Bem Fechados, de Kubrick, entenderá.
O glamour consiste, na verdade, em se ter um local para satisfazer desejos que, de outra forma, seriam irrealizáveis. Isso é o luxo. Compreendi também, mais tarde, o que Léia quis dizer com classe A. O termo - tão desgastado e que costuma soar preconceituoso - não se refere nesse caso a posses monetárias ou a formação intelectual necessariamente. Trata-se um grupo de pessoas que se respeitam mutuamente. Um grupo que, apesar de isso não ser compreendido pela maior parte da sociedade, tem uma séria moral interna. Na verdade, um grupo que não tem necessidade de se vestir com brilhos para ser classe A.
Os ambientes
O acesso é fácil apesar do local ser em uma rua secundária. A idéia é manter a discrição. O muro alto praticamente esconde a casa. O portão se abre e, a seguir, um manobrista leva o carro para um estacionamento com 150 vagas. Na portaria está Léia, belíssima e que talvez mentes menos imaginativas queiram descrever como um tipo mignon, muito longe de lhe fazer justiça. Ela recebe a mim e a minha namorada. Mostra-nos todos os aposentos. Ainda é cedo e há poucas pessoas.
Primeiro as suítes, para os casais que querem mais privacidade. Elas são as únicas instalações a que se é cobrado à parte. Custam R$ 30 a noite. A seguir, Léia apresenta-nos o salão. Nele, 70 casais podem dançar e a sua volta estão as mesas de onde podem ser vistos streap-teases masculinos e femininos e eventuais shows de sexo explícito.
Mais adiante estão os ambientes que são, nos termos usados na divulgação do clube, destinados à troca de carícias. A partir daquela porta é comum que as pessoas andem nuas sem o menor temor, mas não necessariamente. Léia explica que em algumas noites de maior movimento é comum que, mesmo na pista de dança, as pessoas fiquem nuas. “Não há como prever ou como controlar isso quando as coisas esquentam”, diz.
A mesa de sinuca que vemos à frente não é usada em jogos. Tampouco a sala com lareira, ao lado, se destina apenas a aquecer os pares nas noites mais frias. Logo mais, uma piscina e banheiras de hidromassagem, todas em reforma e que devem voltar à atividade durante o verão. Depois de um lance de escadas, encontramos algumas das maiores atrações da casa.
Uma cama com 25 metros quadrados. Léia garante que, no fim das noites mais agitadas, acontece ali tudo o que se puder imaginar. Em outro ambiente, uma espécie de aquário, aqueles casais que gostam de ser vistos podem ser observados sem o menor constrangimento por aqueles casais que gostam de ver. Para os que preferem aguçar a audição e o tato, uma sala escura - Léia a chama de dark room - proporciona uma sinfonia de gemidos, suspiros e uma infinidade de toques misteriosos.
O preço
Tudo isso por R$ 40 para entrar e R$ 10 de consumação por casal. Uma noitada ali sai mais barato que um inocente passeio a uma dessas danceterias muito freqüentadas pelos filhos da nata curitibana, que eventualmente bebem um pouco além da conta e batem o Logus do pai. Nesses lugares, os jovens costumam pagar até R$ 10 de entrada além de R$ 15 de consumação, cada um para se acotovelarem mutuamente. Por baixo, uma noite das mais modestas acaba saindo por R$ 70, se considerarmos o casal e os preços astronômicos. Eu e minha namorada gastamos R$ 53. Nesse clube, na verdade, nem os preços das bebidas chegam a ser exorbitantes, porém não vi ninguém embriagado.
O que pode, o que não pode
Ainda na penumbra do andar de cima do edifício, pergunto sobre o que se pode e o e o que não se pode fazer. “Em hipótese nenhuma, ao circular pelas áreas comuns, é permitido interromper a transa de alguém”, diz Léia. Fazer gracejos ou rir fora de propósito naquele setor também não é de bom tom. A idéia é o respeito pelo o que ali acontece.
No mais, basta usar o bom senso e a educação. Talvez - isso é uma conclusão minha - a intenção seja realmente afastar qualquer um que tivesse alguma tendência a não aceitar corpos que não sejam absolutamente perfeitos. Refiro-me a ratos e ratas de academia ou, se o leitor prefere, escravos da ditadura do corpo. Nessa casa, temos gordos, magros, jovens e velhos. Pessoas tão cotidianas quanto o homem de óculos e de bigode. E todos são aceitos sem exceção, tenham músculos definidos ou flácidos, tenham seios siliconados ou não.
Ela diz que o bissexualismo feminino é bem aceito. “Mas o masculino, se houver, deve acontecer nas suítes privativas”, diz Léia. “Há um certo preconceito, eu sei. Mas os clientes preferem assim.”
Léia nos leva para nossa mesa. É desnecessário descrever detalhadamente o salão. Basta dizer que é simples. Toca um Frank Sinatra. Depois Nat King Cole. Cachito, Cachito, Cachito mio… Alguns casais se animam a dançar quando entra um xote qualquer. Dançam até pudicamente comparando-se com os forrós, que ficaram tão populares na cidade, em que é comum os pares entrelaçarem suas coxas. Aos poucos, o salão fica mais cheio, apesar da chuva que caía do lado de fora.
O garçom
Pedimos uma bebida ao garçom. Ele tem uns 25 anos. Talvez diga para sua mãe que trabalha em um bar qualquer. Essa senhora de cabelos brancos desconhece que, entre outras funções, esse rapaz é o encarregado de desenrolar dois tapetes, um de cada lado do salão, nos momentos que antecedem os streap-teases ou shows de sexo explícito. Depois de tudo, com uma dignidade de príncipe egípcio ele os recolhe.
O momento em que Adonis toma o microfone para dar alguns avisos aos presentes reforça uma certa impressão de que, não estivesse eu onde estava, tratava-se de uma festa de casamento, com tios, tias, primos e primas, ou de um clube familiar onde todos se conheciam, mas com pessoas que há muito eu não via e, por isso, não tinha muita intimidade.
Brincadeiras
Uma das estratégias para aproximar os casais e entrosar os novatos com os outros são as brincadeiras. Ninguém é obrigado a participar, embora nenhuma delas tenha caráter sexual, explicitamente. Mas, em todas, a idéia é a troca de par. Como a dança com o chapéu. Os pares dançam enquanto um homem e uma mulher, ambos sem par, colocam o chapéu na cabeça de alguém. Imediatamente, assumem o seu par e a pessoa que recebeu o chapéu deve procurar uma outra vítima. Quem fica com o chapéu na mão quando o som acaba sai da brincadeira e assim por diante até que só reste um homem e uma mulher.
Outra é a tradicional dança das cadeiras que tanto vimos no matutino Show da Xuxa. A diferença é que o homem fica previamente sentado na cadeira, de maneira que as mulheres, ao cessar a música, sentem em seus colos. A que fica de pé sai da brincadeira, bem como seu acompanhante. A animação fica por conta de um mestre de cerimônia que também faz as vezes de juiz.
Os shows
A estrutura dos acontecimentos é sempre a mesma. Depois de uma brincadeira, vem um show. Obedecendo as regras da casa, em que as mulheres têm suas vontades respeitadas com antecedência, primeiro veio o show para elas. Três sujeitos fortes dançam e tiram a roupa.
Mais tarde, é a vez dos homens, quando duas dançarinas fazem suas evoluções no centro da sala. Em ambos os casos, os streapers assediam o público. Se a pessoa não deseja esse tipo de contato físico, basta fazer um simples gesto com a mão e sua vontade será respeitada. Talvez por estarmos ali pela primeira vez, nem eu nem minha namorada fomos assediados. Sequer foi feita a menção disso.
De outra forma, os que preferem podem tocar e ser tocados. É comum que algumas pessoas do público, mais expansivas, sejam levadas ao meio do salão e permitam ser despidas para simular carinhos mais ousados sob a vigilância de seus pares. A essa altura, na verdade, enquanto assistimos aos shows, tudo pode estar acontecendo nas outras salas do ambiente. Minhas palavras poderiam soar vulgares e essa não é a intenção. Deixo a cargo da imaginação de cada um, portanto.
A surpresa
Em certo momento, tudo pára. Alguém chama uma das mulheres presentes ao centro daquele espaço. É o aniversário dela. Todos cantam parabéns a amiga. E há uma surpresa. O seu marido providenciou para que cinco daqueles dançarinos ficassem a sua disposição. Eles se aproximam e a enlaçam. Nesse momento a luz se apaga. E isso dura cerca de um minuto. A luz acende e os dançarinos se afastam. Ela está visivelmente emocionada. Mas não é pelo contato com aqueles cinco faunos. É porque, nesse momento, ela descobriu que ele realmente a ama.
E não há como negar. Trata-se de um homem que fez com que outros cinco abraçassem sua esposa diante de si e de todos. Este homem voltou ao momento exato em que a espécie humana passou a confundir sexo e amor - conjunção possível, mas não necessária - e superou o que, em seu entendimento, poderia ser considerado um equívoco, aquilo que gera tantos relacionamentos baseados não em afeto, mas em posse. No momento em que ela está com aqueles cinco, há prazer, há até carinho, mas não há o amor de seu homem. A mulher, certa do que aconteceu, sente-se incapaz de traí-lo, pois não seria possível imaginar o que seria traição depois de tal presente. Pode-se dizer por seus olhos que não saiu daquele abraço como uma libertina, mas como um ser mais puro. Tanto ele como ela entenderam nesse momento que só poderiam trair a si mesmos ao deixar de se amarem sem, entretanto, admitir tal fato.
Muitíssimo interessante a narrativa,que nos leva pra dentro da história e dá uma tremenda vontade de protagonizar a trama... hummmm
ResponderExcluirCreio q irei em breve fazer a minha própria história acontecer.
Parabéns!!!
Façam sim!!! E venham à Rio Tropical, aguardamos vcs...
ResponderExcluirBjs
sou de curitiba quero faZER uma troca de casais bem luca...
ResponderExcluirfone 9938-5388
Como faço p/ entrar em contato c/ SNG do Bairro Portão...???
ResponderExcluirJá q o endereço não é divulgado, preciso do nr de um telefone!!!
U R G E N T E
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