É na noite e no silêncio das grandes cidades brasileiras que eles se multiplicam. Não têm placas na porta, nem endereço público. Mas quem se interessa pelo assunto chega lá sem dificuldades. Os clubes de troca de casais não são novos, mas prosperam com uma velocidade impressionante. E não é difícil encontrar sócios desses clubes. Gente que, naturalmente, não quer se identificar. Mas fala sobre o que faz com franqueza.
Um homem e uma mulher que estão casados há três anos buscavam novas emoções. Queriam viver na prática suas fantasias mais secretas. Hoje lideram um grupo que se encontra para fazer troca de casais ou sexo grupal.
“Eu gosto de vê-la sentindo prazer da mesma forma que ela gosta de me ver sentindo prazer. Isso é o que a gente chama de o extremo do amor. O extremo do amor que eu sinto por ela é eu poder dar a ela mais do que ela tem comigo”, diz o homem.
“Para nós, o fundamental é a cumplicidade. A gente faz tudo junto. Se a gente está com outra pessoa, se existe um terceiro ou um quarto, ou seja lá quantas pessoas forem, a gente está sempre junto dividindo isso. É diferente do casal em que o homem tem uma fantasia e sai sozinho”, comenta a mulher.
“Eu já transei com cinco pessoas em uma noite”, conta ela.
“Eu fui mais econômico, transei com quatro”, conta ele.
Apreciadores do sexo grupal sempre existiram, mas basta dar uma olhada nos jornais para perceber que o público interessado está crescendo. Uma jovem cientista social resolveu estudar o assunto. Ela descobriu que mesmo quando pretende quebrar todas as regras, o sexo grupal tem seu próprio código de comportamento.
A antropóloga Olívia von der Weid foi a 19 encontros e observou que os casais fazem sexo com vários parceiros, mas mantêm uma relação afetiva monogâmica.
“Eles têm relações sexuais com outros, mas o casamento, a relação de amor e afeto, é com seu cônjuge, não é com todo mundo. Para eles, traição é quando o seu parceiro se relaciona com outra pessoa afetivamente. Segundo eles, estão ali fazendo sexo, amor eles fazem só com o parceiro. Há uma divisão entre sexo e amor”, explica a pesquisadora.
O grupo criado pelo casal cresce sem parar. O site recebe mais de 100 e-mails por dia. O universo de interessados é abrangente.
“Geralmente são casais mais maduros, na faixa dos 30, 40 anos, no segundo casamento. Temos visto casais novos, entre 20 e 30 anos, procurando informações sobre sexo liberal”, conta o marido entrevistado.
Sexo grupal em tempos de Aids é sexo de risco. Mesmo que a regra básica para freqüentar esses clubes seja o uso do preservativo.
“Não tem aquela de esquecer”, garante a mulher.
“Não tem essa. Ela anda com camisinha na bolsa e eu, no carro, Os clubes distribuem. A gente faz apologia do uso da camisinha, sexo seguro o tempo inteiro”, afirma o marido dela.
Mas outro casal que freqüenta o mesmo grupo conta uma história diferente.
“É uma certa roleta, tem risco, como tudo na vida. Eu faço opção por esse tipo de prazer, por esse tipo de relacionamento, então, se eu ficar com medo, eu não vou fazer”, comenta o homem.
“É difícil manter normas sanitárias dentro de um grupo grande, onde rolam bebidas e drogas. Acho que deve ser bastante complexo manter cuidado. Hoje em dia sabemos quantas doenças venéreas são transmitidas sexualmente. Então, há riscos”, diz o psicanalista Alberto Goldin.
“Não são todos os casais que têm essa prevenção. Conheço casais que preferem se fazer exames e ter um relacionamento com o sexo liberal sem o uso do preservativo. É uma coisa com a qual não concordamos, não achamos certo”, diz a mulher do segundo casal entrevistado. “Seria certo que esse homem usasse camisinha, mas geralmente são pessoas que a gente conhece. Seria o justo, mas não vejo necessidade”, acrescenta.
Eles se conheceram pela internet e tinham as mesmas fantasias sexuais. Hoje estão casados e têm um filho de sete meses. Eles dizem que a opção pelo sexo grupal nada tem a ver com o desgaste do casamento.
“Nós acreditamos que a vida liberal não é uma bengala para salvar o casamento. Você tem que estar muito bem, muito feliz com o seu relacionamento e seguro de si. Se não estiver seguro, o relacionamento vai desmoronar na hora, não tem jeito”, comenta o homem.
A clandestinidade não os incomoda, porque, na verdade, encontraram nova roda de amigos, interessados no mesmo tipo de prazer.
“A gente se distanciou das amizades normais. A gente fala normais brincando, porque a gente também se acha normal”, diz o homem.
“Já encontrei na casa de swing gente que nem imaginava que fosse freqüentar, como a professora de spinning dele. Gente do bairro, vizinho, gente que você olha com cara de bonzinho”, revela a mulher dele.
O casal garante que continua a fazer, com muito prazer, o sexo convencional, a dois. Mas o marido confessa que o sexo grupal exerce uma atração alucinante sobre ele.
“O swing é como uma cocaína, vicia. Você quer ir outras vezes e começa a se interessar por sites, por anúncios de outros casais”, diz a mulher.
“Hoje os casais têm a possibilidade de escolher a relação que eles querem viver”, comenta a antropóloga.
“Para cada um deles isso tem um valor diferente. Pode ser expressão de liberdade, uma necessidade de ver a própria mulher fazendo sexo com outro homem ou uma necessidade exibicionista”, constata o psicanalista.
“O sexo é livre nesses lugares, mas há regras de aproximação, de etiqueta, como chamam. Uma das coisas que eles dizem é que você pode tudo, mas não é obrigado a nada”, revela a antropóloga.
Fonte: http://redeglobo.globo.com/Globoreporter/0,19125,VGC0-2703-4169-4-65052,00.html
21/10/2004